Quando conquistamos uma pessoa,
aquele passa a ser um território a ser explorado. É excitante conhecer suas
curvas, suas formas, o que mostra e também aquilo que esconde em suas
profundezas. Mais adiante passamos da caminhada aprazível para a saga exploratória,
onde descobrimos não apenas o oculto, mas também as suas causas e seus
desdobramentos.
A exploração nunca é delicada ou
unilateral, por onde passamos transformamos e ao mesmo tempo somos
transformados. Nunca saímos ilesos de uma jornada. E aquelas terras até então
desconhecidas, passam a nos ser familiar, muitas vezes nos sentimos tão
confortáveis que passamos a compreender aquela imensidão como espaço meu, se apropriando mesmo do
perigo, do desconhecido, do feio.
Naquela terra construímos, não
mais apenas da forma inconsciente de quem chega, mas na intenção de quem quer
ficar. Um espaço seu num mundo de tantos, onde o riso é simples e a caminha é
justa.
Os imperadores serão ainda
admirados pela bravura e pelo êxito em conquistar grandes extensões de terras,
mas a história nos demonstra que a tendência de todo grande império é ruir.
Disse Calvino “é o desesperado momento em que se descobre que este império, que
nos parecia a soma de todas as maravilhas, é um esfacelo sem fim e sem forma,
(...) que o triunfo sobre os soberanos adversários nos fez herdeiros de suas
prolongadas ruínas”. É o que o imperador obtém, os restos de terras
desestabilizadas, grandioso em tamanho, mas de delicada volubilidade, e breve é
o sentimento de perpetuidade.
Demasiadas são as fronteiras, que
fragilizam essas terras, tantas são as entradas e saídas, e pouco é o controle
que têm sobre as terras que agora pisam. Sedutora é a ideia de poder obter
tanto, é o engodo histórico que nos torna colecionadores, sem perceber que
estar em contato não é estar junto, estar ao alcance não é possuir. E tudo se
desfaz, sem que estejamos cientes a que devemos estender a mão, como uma última
e desesperada tentativa de tentar manter algo para que não se perca tudo, e
então se percebe o pouco domínio que temos sobre nosso caminho, quando se anda
a esmo.
Há demasiada melancolia em
grandes terras desabitadas, talvez seja esse bucólico vazio um espaço cheio de significância
que movimenta nosso pensamento, e que, de repente, nos faz deixar de seguir
grandes imperadores para nos tornarmos proprietários do que cabe em nosso
peito, um espaço pequeno para quem de fora vê, mas imenso para quem é capaz de
mensurá-lo.
Imenso por conhecermos cada uma
de suas arestas, seus vértices e suas faces. Pelo tempo que dedicamos, pela
evolução que presenciamos, e pelo tanto que aquilo nos representa. Não mais
terras desconhecidas, de línguas tão estranhas, e de gente incomunicável, mas
aquele lugarzinho nosso, do tamanho do nosso conforto, preenchido de
significados, não mais de vazios e procuras incompreensíveis a nós mesmos.
Há belezas que são perceptíveis a
qualquer turista, mas as que mais me tocam, só são vistas por quem fica.